sábado, 20 de junho de 2009

Lição 5A: PLATÃO E O MUNDO DAS IDÉIAS

Platão

Platão de Atenas (Atenas,428/27– Atenas, 347 a.C.) foi um filósofo grego. Discípulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de Aristóteles. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles; Platão era um apelido que, provavelmente, fazia referência à sua característica física, tal como o porte atlético ou os ombros largos, ou ainda a sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas. Πλάτος (plátos) em grego significa amplitude, dimensão, largura. Sua filosofia é de grande importância e influência. Platão ocupou-se com vários temas, entre eles ética, política, metafísica e teoria do conhecimento.

O mito da caverna

O mito da caverna, também chamada de Alegoria da caverna, é uma parábola escrita pelo filósofo Platão, e encontra-se na sua obra intitulada A República (livro VII). Trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade.

VÍDEO ILUSTRATIVO DO MITO DA CAVERNA:



Interpretação da alegoria

Platão referia-se aos seus contemporâneos, com suas crenças e superstições. O filósofo era qual um fugitivo capaz de fugir das amarras que prendem o homem comum às suas falsas crenças e, partindo na busca da verdade, consegue apreender um mundo mais amplo. Ao falar destas verdades para os homens afeitos às suas impressões, não seria compreendido e seria como tomado por mentiroso, um corruptor da ordem vigente.
O mito da caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância, isto é, a passagem gradativa do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na causalidade.
Segundo a metáfora de Platão, o processo para a obtenção da consciência abrange dois domínios: o domínio das coisas sensíveis (eikasia e pístis) e o domínio das idéias (diánoia e nóesis). Para o filósofo, a realidade está no mundo das idéias e a maioria da humanidade vive na condição da ignorância, no mundo ilusório das coisas sensíveis, no grau da apreensão de imagens (eikasia), as quais são mutáveis, corruptiveis, não são funcionais e, por isso, não são objetos de conhecimento.

Teoria atómica de Platão
No livro Timeu, escrito por volta do ano de 350 a.C., Platão apresenta a teoria segundo a qual os quatro "elementos" admitidos como constituentes do mundo - o fogo, o ar, a água e a terra - eram todos agregados de sólidos minúsculos. Além disso, defendia ele, uma vez que o mundo só poderia ter sido feito a partir de corpos perfeitos, estes elementos deveriam ter a forma de sólidos regulares.
Sendo o mais leve e o mais violento dos elementos, o fogo deveria ser um tetraedro.
Como o mais estável dos elementos, a terra deveria ser constituída por cubos.
Como o mais inconstante e fluido, a água tem que ser um icosaedro, o sólido regular capaz de rolar mais facilmente.
Quanto ao ar, Platão observou que: "o ar é para a água o que a água é para o ar," e concluiu, de forma algo misteriosa, que o ar deve ser um octaedro.
Finalmente, para não deixar de fora um sólido regular, atribuiu ao dodecaedro a representação da forma de todo o universo.

Por muito excêntrica e fantástica que esta teoria possa parecer aos nossos olhos, nos séculos XVI e XVII foi levada muito a sério, mesmo que não fosse completamente aceite como verdadeira, quando Johanes Kepler começou as suas buscas sobre a ordem matemática no mundo à sua volta. Os desenhos reproduzidos na figura são ilustrações do próprio Kepler sobre a teoria atómica de Platão.








Keith Devlin "Matemática, a ciência do padrões", Porto Editora, 2002.






O carro dos deuses e das almas imortais:
"Zeus, o grande condutor do céu, anda no seu carro alado a dar ordens e a cuidar de tudo.

O exército dos deuses e dos demônios segue-o distribuído em onze tribos. Héstia (deusa do lar) é única entre os seres divinos que permanece em casa. Cada um dos outros onze deuses é guia, conforme a ordem da sua tribo.

Há muitos e agradáveis espetáculos e caminhos no céu, por onde anda a grande família dos deuses, fazendo cada um deles o que lhe está afeto e seguindo-os aqueles que os podem seguir.

Quando se dirigem para o banquete que os espera, os carros sobem por um caminho escarpado até o ponto mais elevado da abóbada dos céus.

Os carros dos deuses, que são mantidos em equilíbrio graças à docilidade dos corcéis, sobem sem dificuldade.

Os outros grimpam com dificuldade, porque o cavalo de má raça inclina e repuxa o carro para a terra. Há então grande trabalho para a alma.

As almas daqueles que chamamos imortais, logo que atingem a abóbada celeste aí se mantêm; são impelidos por um movimento circular e podem então contemplar tudo o que fora dessa abóbada abarca o universo" (Fedro 246 e - 247 c).

Prossegue a solene descrição da marcha pelo céu platônico:

"Nenhum poeta ainda cantou, nem cantará a região que se situa acima dos céus. Vejamos, todavia, como ela é. Se devemos dizer sempre a verdade a isso somos ainda mais obrigados, quando se fala da própria verdade.

A realidade sem forma, sem cor, impalpável só pode ser contemplada pela inteligência, que é o guia da alma. E é na Idéia Eterna que reside a ciência perfeita, aquela que abarca toda a verdade.

O pensamento de um Deus nutre-se de inteligência e de ciências puras. O mesmo se dá com todas as almas que procuram receber o alimento que lhes convém.

Quando a alma, depois da evolução pela qual passa, chega a conhecer as essências, esse conhecimento das verdades puras a mergulha na maior felicidade.

Depois de haver contemplado essas essências, volta a alma a seu ponto de partida. Mas, durante a revolução pela qual passou, ela pôde contemplar a Justiça, a Ciência, não estas que conhecemos, sujeitas às mudanças e que se diferenciam segundo os objetos, mas a Ciência que tem por objeto o ser dos seres.

Quando assim contemplou as essências, quando se saciou da sua sede de conhecimento, a alma mergulha novamente no interior do céu e volta ao pouso.

E após a volta da alma, o condutor leva os cavalos a manjedoura e dá-lhes ambrosia e néctar. Essa é a vida dos deuses" (Fedro 247 c-e).
132. O carro das almas dos mortais:
"A sorte das outras almas, é, porém, esta: tudo fazem elas para seguir os deuses, erguem a cabeça do guia para a região exterior e se deixam levar com a rotação. Mas perturbadas pelos corcéis do carro, apenas vislumbram as realidades. Ora, levantam, ora baixam a cabeça, e, pela resistência dos cavalos, vêem algumas coisas, mas não vêem outras.

Outras há, porém, que, nostálgicas, seguem todas para cima, acompanhada a rotação, incapazes de se levantarem, empurrando-se e derrubando-se umas às outras, quando alguma pretende passar adiante. Há confusão e briga e abundante suor. Muitas se ferem, por culpa dos cocheiros. Muitas partem as penas de suas asas. Todas após esforços inúteis, na impossibilidade de se elevarem até a contemplação do ser absoluto, caem e sua queda as condena à simples opinião.

A razão, que atrai as almas para o céu da verdade, é porque aí poderiam elas encontrar o alimento capaz de nutri-las e de desenvolver-lhes as asas, aquele que conduz a alma para longe das baixas paixões.

É uma lei de Adrástea [personificação do inevitável] que toda a alma que segue a de um Deus, contempla algumas das verdades: fica isenta de todos os males até nova viagem e, se o seu vôo não se enfraquecer, ela ignorará eternamente o sofrimento.

Mas, quando já ela se enche de alimento impuro, de vício e de esquecimento, torna-se pesada e se precipita ao solo" (Fedro 248).
133. Até onde iria o lado mítico na descrição platônica?

Para Numêmio, filósofo neoplatônico de Apameia da Síria do 2-o século d.C., as almas dos mortais teriam de fato caído da esfera celeste.

Para Platão as almas efetivamente preexistem à vida presente e seu lugar natural seria o céu das estrelas.

Esta doutrina, de origem não bem conhecida, reaparece na imaginação cristã, que situa o céu no alto e como lugar futuro da alma, onde sua felicidade seria a contemplação da divindade.

Para este lugar subiu a carruagem do profeta Elias e para ele se elevou Jesus de Nazaré. Este lugar especial foi denominado terceiro céu, por Paulo Apóstolo, que diz ter sido elevado em êxtase até ele.

Anteriormente ao pitagorismo o lugar das almas era imaginado como sendo debaixo da terra, isto é, no Hades (nome grego) ou inferno ( nome latino). Depois evolui a idéia. Mantendo debaixo da terra os maus e no céu astronômico os justos. O platonismo contribuiu para a formação desta imagem de céu do após a morte.

134. Continua Platão o texto antes citado, referindo-se agora às diferentes reencarnações e tipos de homem, tudo em clima pitagórico. Estabeleceu aqui teses gnosiológicas juntamente com posições antropológicas e morais.

0. "Uma lei determina que, no primeiro nascimento, a alma não entra no corpo de um animal.

  1. Aquela que mais contemplou gerará um filósofo, um esteta ou um amante favorito das Musas;

  2. A alma de segundo grau irá formar um rei legislador, guerreiro ou dominador;

  3. A de terceiro grau forma um político, um economista ou financista (na grécia estes cargos eram ocupados somente por homens de altíssima honra e moral);

  4. A do quarto, um atleta incansável ou um médico;

  5. A de quinto, seguirá a vida de um profeta ou adepto dos mistérios;

  6. A de sexto, terá a existência de uma poeta ou qualquer outros produtor de imitações;

  7. A de sétimo, a de um operário ou camponês.

  8. A de oitavo, a de um sofista ou demagogo (na atualidade poderiamos dizer que aqui residem todos os legalistas e burocratas);
  9. A de nono, a de um tirano.

Quem em todas estas situações praticou a justiça moral, terá melhor sorte. Quem não a praticou, cai em situação inferior.

Para o ponto de que saiu uma alma não voltará ela senão passados 10.000 anos, pois, antes disso, não recebe asas.
Fazem exceção as almas dos filósofos sinceros e dos que amam com amor filosófico os rapazes.
Saem alados no terceiro milênio, se por três vezes seguidas escolheram a vida do filósofo.
Quanto às outras almas, terminada a primeira vida, são submetidas a julgamento.
Umas vão para lugares de penitência, abaixo da terra, para receberem o castigo;
outras sobem, por sentença, a um lugar do céu, onde desfrutam as recompensas das virtudes que praticaram na vida terrestre.
No milésimo ano, cada alma destas duas espécies tira a sorte e escolhe uma segunda vida, obtendo o que deseja.
Assim, uma alma humana pode entrar em corpo de animal, e a alma de um animal pode ir habilitar em corpo humano, desde que já uma vez tenha sido homem.
A alma, que nunca contemplou a verdade, não pode tomar a forma humana" (Fedro 248 d - 249b).


A ciência como reminiscência. Idéias inatas.


Ocupada a alma ordinariamente com as coisas terrestres, o conhecimento adquirido nesta ocupação não é todo o conhecimento, porquanto ainda existem as realidades ideais, as únicas que são universais.

Nestes universais, anteriores à opinião, consiste a ciência, ou seja o verdadeiro saber, a filosofia.

Mas, ainda que a intuição das idéias separadas tenha sido direta e já tenha ocorrido em vida anterior, encontram-se estas idéias universais um tanto esquecidas, devendo ser recordadas com algum esforço. Tem de ser praticada uma recordação, ou reminiscência ( µ ).

A ciência é pois constituída pelas idéias inatas, conduzidas à reminiscência ( µ ).

As coisas sensíveis, ainda que não sejam as mesmas idéias separadas, são lhes contudo semelhantes. Por isso podem ser estímulos da referida recordação. Enquanto em alguns indivíduos mais embrutecidos elas fazem pensar apenas no objeto sensível, em outros produzem o estímulo adicional da reminiscência.

Deu Platão como exemplo desta diferença, advertindo sobre como os homens apreciam por desigual uma mulher: uns a vêem apenas como este ser sensível belo, para uma agradável conjunção dos corpos. Ao contrário, outros, ao verem o mesmo ser sensível belo, são estimulados também a recordar a idéia transcendente de mulher bela, e ainda, para o delírio superior que a visão do belo é capaz de produzir.

Portanto, ainda que a idéia separada não esteja contida na idéia adventícia da coisa sensível, e dela não se abstraia, porque nela apenas se encontra uma imitação deficiente como sombra, ela pode contudo adicionalmente estimular a reminiscência da referida idéia separada intuída em um passado remoto e conservada em estado subconsciente.

Não chega o objeto deste mundo a ser causa efetiva da idéia universal da mente, porque um seccionamento perfeito ocorre entre os dois mundos, mas contudo consegue ser a causa ocasional de sua recordação.

Há a considerar como a reminiscência simplesmente se exerce. A seguir há a considerar as práticas que a favorecem, como a purificação e a dialética do amor.

A reminiscência se exerce por um esforço de atenção, por meio do qual a mente passa de um nível de conhecimentos ao outro, do sensível que é estimulo, ao das idéias separadas.

Dentro de cada nível ainda ocorrem graus, devendo-se ir de um ao outro, em marcha ascensional constante. Nesta marcha ascensional para redescoberta das noções universais discerniu portanto Platão dois tempos gerais, com subtempos.

O primeiro tempo geral da reminiscência se refere ao mundo alcançado experimentalmente, que se redividido em dois outros tempos (ou graus), o da conjectura e pela fé dos mitos. Um e outro servem apenas como estímulo.

O segundo tempo geral se refere ao mundo separado, ou dos inteligíveis, em que também ocorre uma subdivisão de tempos (ou graus), o do conhecimento razoável e o da ciência.

Um texto platônico apresenta os quatro tempos, mas pela ordem inversa, ou descendente:
"Meu parecer é que se continue a chamar

- ciência, ao primeiro e mais perfeito modo de conhecer;

- conhecimento razoável, ao segundo;

- fé, ao terceiro;

- conjectura, ao quarto.


Compreendo os dois últimos sob o nome de (= opinião), os dois primeiros sob designação de inteligência.

O que nasce é objeto da opinião: o que é, objeto da inteligência. A relação do ser com o que nasce é a mesma que a da inteligência com a opinião, e a relação da inteligência com a opinião a mesma que a da ciência com a fé e a do conhecimento razoável com a conjectura" (República 533 e - 534a).

A distinção entre a idéia inata e a opinião, derivada da experiência, vem novamente reafirmada no Timeu (51 d - e).

Com mais detalhe, no primeiro tempo geral, principia a ascensão cognoscitiva do homem pelas coisas do mundo sensível; mas como estas não representam senão a sombra da realidade propriamente dita, não podem revelar toda a verdade.

No primeiro grau, o da simples conjectura, toma contato qualquer com a realidade sensível. É a noção de quem ouve, escuta, vê coisas quaisquer, por exemplo, uma bela música, uma encantadora flor, etc...

No segundo grau, da ascensão, mas ainda com a luz da experiência sensível, o conhecimento do homem passa a tomar aspectos mais organizados, principalmente pela generalização dos termos, de modo a se criarem definições científicas.

Entretanto, em virtude de se ficar ainda com a simples luz da sensibilidade, não pode este tipo de conhecimento progredir até a plena luz; estaciona num plano comparável com as alegorias, comparações literárias, de que o estilo do próprio Platão é um exemplo.

Aristóteles ficará aqui e por meio da teoria da abstração mostrará que no sensível se captam também os universais, principiando pela idéia do ser do sensível, e com isso rejeita, como desnecessário o segundo tempo de Platão, no qual seguia para as idéias inatas.

Entretanto, no entender de Platão, há um segundo tempo geral no processo cognoscente, quando a ascensão cognoscitiva do homem alcançaria seu verdadeiro objetivo ao voltar-se para as idéias do mundo inteligível, que se encontram nele mesmo, idéias que são reminiscências de um vida anterior.

No primeiro grau deste segundo tempo geral se revelam as noções das ciências exatas, matemática, física, geometria. Tem elas necessidade de imagens sensíveis, razão porque são menos puras; mas a última razão de seus axiomas se baseia no mundo dos inteligíveis, conforme se vê na definição abstrata que se dá aos números e às linhas.

No segundo grau, deste segundo tempo geral, a alma atinge a plena luz, pela intuição adequada das idéias. Só então ocorrerá a ciência perfeita, a sabedoria, ou seja a filosofia.

Encontra-se alia distinção futura entre ciência do ser particular da natureza, no sentido mais geral de física, e a ciência inteiramente universal, no sentido que assumiu a palavra metafísica.