sábado, 20 de junho de 2009

Lição 5B: AMOR PLATÔNICO

O AMOR PARA PLATÃO


Amor platônico, na acepção vulgar, é toda a relação afetuosa em que se abstrai o elemento sexual, idealizada, por elementos de gêneros diferentes - como num caso de amizade pura, entre duas pessoas.
Esta definição, contudo, difere da concepção mesma do amor ideal de Platão, da qual surgiu a atual idéia grosseira, o filósofo grego da Antigüidade, que concebera o Amor como algo essencialmente puro e desprovido de paixões, ao passo em que estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e falsas. O Amor, no ideal platônico, não se fundamenta num interesse , mas na virtude.
O termo Amor platonicus foi pela primeira vez utilizado no século XV, pelo filósofo neoplatônico florentino Marsilio Ficino, como um sinônimo de amor socrático. Ambas as expressões significam um amor centrado na beleza do caráter e na inteligência de uma pessoa, em vez de em seus atributos físicos. Referem-se ao laço especial de afeto entre dois homens a que Platão tinha se referido num de seus diálogos, exemplificando-o com o afeto que havia entre Sócrates e seus discípulos homens, em particular entre Sócrates e Alcibíades
A expressão ganhou nova acepção com a publicação da obra de Sir William Davenant, "Platonic Lovers" ("Amantes platônicos" - 1636), onde o poeta inglês baseia-se na concepção de amor contida no Simpósio de Platão (tambem conhecido como "Banquete"), do amor como sendo a raiz de todas as virtudes e da verdade.
O amor platônico passou a ser entendido como um amor à distância, que não se aproxima, não toca, não envolve. Reveste-se de fantasias e de idealização. O objeto do amor é o ser perfeito, detentor de todas as boas qualidades e sem máculas. Parece que o amor platônico distancia-se da realidade e, como foge do real, mistura-se com o mundo do sonho e da fantasia.
Ocorre de maneira freqüente na adolescência e em adultos jovens, principalmente nos indivíduos mais tímidos, introvertidos, que sentem uma maior dificuldade de aproximar-se do objeto de amor, por insegurança, imaturidade ou inibição do ponto de vista emocional .

O Banquete
O é um livro/dialogo de Platão, e nele Platão narra uma orgia festiva na casa de Agaton. Estavam presentes a esse banquete, entre outras pessoas, Aristodemo, amigo e discípulo de Sócrates; Fedro, o jovem retórico; Pausânias; o médico Eriximaco; Aristófanes, o comediante que ridicularizava Sócrates e o político Alcibíades. Estava também presente o velho Sócrates.
Devido ao exagero cometido na festa do dia anterior, sobretudo o excesso de bebida, fatigara os convidados de Agaton. Pausânias propôs então que em lugar de beberem, ficassem ali a conversar, a discutir ou que cada um fizesse algo "diferente".
Essa proposta de Pausânias foi aceita por todos. Ao que Eriximaco acrescentou que se fizesse elogios a Eros, no qual os convidados deveriam fazer um discurso para louvar o amor, porém Sócrates, um dos presentes, resolve que antes de falar sobre o bem que o amor causa e seus frutos deveriam definir antes o que é o amor. Há uma passgem sobre o significado do amor. Sócrates é o mais importante dentre os homens presentes. Ele diz que na juventude foi iniciado na filosofia do amor por Diotima de Mantinea, que era uma sacerdotisa. Diotima lhe ensinou a genealogia do amor.
O primeiro a discursar sobre o assunto é Fedro, seguido por Pausânias, que afirma que há mais de um Eros, divindo-o entre bem e mal, real e divino. Após segue Eriximaco, segundo ele o amor não exerce influência apenas nas almas, mas dá, ainda, harmonia ao corpo.
O próximo a discursar foi Aristófanes que começa seu discurso advertindo que sua forma de discursar será diferente. Faz de imediato uma denúncia à insensibilidade dos homens para com o poder miraculoso de Eros, e sua conseqüente impiedade para com um deus tão amigo. Para conhecer esse poder, ele diz que é preciso antes conhecer a história da natureza humana e, dito isto, passa a narrar o mito da nossa unidade primitiva e posterior mutilação. Segundo Aristófanes, havia inicialmente três gêneros de seres humanos; os quais eram duplos em si mesmos: havia o gênero masculino masculino masculino, o feminino feminino feminino e o masculino feminino masculino, o qual era chamado de andrógeno. Nas palavras do poeta:

É então de há tanto tempo que o amor de um pelo outro está implantado nos
homens, restaurador da nossa antiga natureza, em sua tentativa de fazer um só de
dois e de curar a natureza humana. Cada um de nós portanto uma téssera
complementar de um homem, porque cortado com os linguados, de um só em dois; e
procura cada um o seu próprio complemento. (O Banquete)
Assim, aqueles que foram um corte do andrógeno, tanto o homem quanto a mulher, procuram o seu contrário. Isto explica o amor heterossexual. E aquelas que foram o corte da mulher, o mesmo ocorrendo com aqueles que são o corte do masculino, procurarão se unir ao seu igual. Aqui Platão apresenta uma explicação para o amor homossexual e trans-sexual feminino e masculino, tratando como algo natural ou normal. Quando estas metades se encontram, sentem as mais extraordinárias sensações, intimidade e amor, a ponto de não quererem mais se separar, e sentem-se a vontade de se "fundirem" novamente num só. Esse é o nosso desejo ao encontramos a nossa cara metade.

Veja o vídeo:




O amor para Aristófanes e Platão é portanto o desejo e a procura do todo perdido por causa da nossa injustiça contra os deuses. O último a elogiar o amor foi Agaton, o anfitrião do banquete. Ao contrário dos que o precederam, Agaton não se propõe enaltecer os benefícios que o Eros faz ao homem, mas sim cantar o próprio deus e a sua essência, passando em seguida a descrever-lhe o "dote". Após toda essa longa lista de adjetivação atribuídas a Eros, nota-se o quanto o poeta se distancia de sua proposta inicial e de seu preceito metodológico.
Finalmente chega a hora de Sócrates discursar, e fala que sendo o Amor, amor de algo esse algo é por ele certamente desejado. Mas este objeto do amor só pode ser desejado quando lhe falta e não quando possui, pois ninguém deseja aquilo de que não precisa mais.

O que deseja, deseja aquilo de que é carente, sem o que não deseja, se não for
carente (O Banquete ).

Aqui, na fala de Sócrates Platão coloca seu apontamento crucial sobre o conceito de amor, onde, o que se ama é somente "aquilo" que não se tem. E se alguém ama a si mesmo, ama o que não é. O "objeto" do amor sempre está ausente, mas sempre é solicitado. A verdade é algo que está sempre mais além, sempre que pensamos tê-la atingido, ela se nos escapa entre os dedos. Essa inquietação na origem de uma procura, visando uma paixão ou um saber, faz do amor um filósofo. Sendo o Amor, amor daquilo que falta, forçosamente não é belo nem bom, visto que necessariamente o Amor é amor do belo e do bom. Não temos como desejar aquilo que temos. E no mesmo diálogo, Platão ainda fala a sobre a origem de Eros (através do mito narrado por Diotima de Mantineia a Sócrates) segundo o qual Eros teria a natureza da falta justamente por ser filho de Recurso e Pobreza.
Platão deixa entrever também no Banquete, que é em termos relacionais que Eros deve ser pensado, não em termos absolutos. Não se deve compreender o amor como absoluto, mas como relativo, pois é amor de alguma coisa. O amor estabelece relação entre quem ama e aquele que é amado, assim como a opinião certa medeia à sabedoria e a ignorância.
No texto, Platão retira de Eros (Amor) a condição de deus, e transforma-o em um selo, um intermediário entre os Deuses e os mortais. O amor como ligação. Segundo relatos do texto de Platão e de alguns de seus companheiros, o amor é o um um dos maiores bens do homem (junto com o inteligência e a sabedoria), não é nem bom nem mal em si mesmo, como pratica. Ainda existe uma explicação e ‘naturalização’ do amor bissexual e do amor homossexual. Platão relaciona o amor com a verdade, pois quando se ama não é somente exercer o poder sobre alguém ou demonstrar força, mas trata-se de saber ser correspondido, ou seja, trata-se da verdade.
Para alguns intérpretes, o conceito de amor em Platão (em O Banquete) é um amor irracional e explicado pela natureza.